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Causos do dia a dia: quando os filhos são nossos analistas

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Duas histórias em que minha filha mostrou para mim a realidade pura da vida

Estou pensando seriamente em parar a análise e passar a escutar mais a minha filha. Outro dia, estávamos no meu escritório, uma de costas para outra. Eu tentava resolver um problema de trabalho no computador, em silêncio. Ela brincava com suas coisinhas sobre o sofá. (Antes que alguém pergunte como eu consigo trabalhar com ela ao redor, já adianto que foi um momento raríssimo.) Foi então que, do alto dos seus 2 anos recém completos, ela disse: “Mamãe, você está sempre preocupada?” Baqueada por uns dias com a constatação da mocinha, resolvi repensar a ordem das coisas na minha vida e venho tentando ser menos nóia. Em nome dela e da paz familiar. Tentado, que fique claro. Essas coisas a gente não consegue de uma hora para outra.

Dias depois do episódio, em um almoço com duas amigas que são mães uma delas revelou a estratégia do marido para conter as crises de manha da filha mais nova. Ele conta uma historinha mais ou menos assim:

–      Filha, tem três tipos de casa. Uma é a casa do grito. Lá, todo mundo diz as coisas gritando. – E repete frases do cotidiano como “Eu te amo” ou “Estou com fome”, aos berros.

–      A outra é a casa do choro. Lá, todo mundo diz as coisas chorando. –E, então, repete as mesmas frases fingindo que está chorando.

–      E tem também a casa da conversa. Lá, todo mundo diz o que quer ou pensa. –E repete as tais mesmas frases com a tranquilidade que todo pai ou toda mãe sonha.

Ele, um cara que esbanja paciência, então pergunta à filha:

– Em qual delas você gostaria de morar?

Achei muito bacana aquele papo e fiquei com vontade de que funcionasse aqui. O problema é que prezo pela coerência e tenho alguma consciência de que não sou exatamente um ente da família que mora na casa da conversa. Meu sangue ítalo-hispânico resultou nessa mistura de personagem do Almodóvar com um quê de Puccini. Pura loucura. Gritos e choros, portanto, saem de mim com a mesma facilidade com que digo “Oi”. Assim, logo de cara, achei um tanto contraditório usar a mesma estratégia com a Valentina.

Foi então que meu marido viajou a trabalho e minha filhota logo resolveu botar para fora a falta que o pai faz. Nossa casa ficou cheia de lobos e monstros. Durante a noite, era ele que ela chamava primeiro ao acordar do pesadelo. E, durante o dia, foi tomada por acessos de manha. Em uma manhã de desespero, em que ela não parava de pedir ou dizer coisas simples tirando o choro lá da ponta do dedão, eu lancei a historinha das três casas. Valentina imediatamente ficou quieta e olhou bem para mim, prestando atenção ao que eu dizia. Quando perguntei qual das casas ela preferia, recebi a seguinte resposta: “A casa de verdade”. Acho que não preciso dizer mais nada, não?


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